Bastião do Mar

 

Dúvida que paira no ar e no mar

Enquanto a lua derramava seu brilho prateado sobre o mar, Bastião do Mar que sempre fora fascinado pelas águas azuis e serenas, assim como seu pai, que enxergava no oceano um mundo cheio de segredos e mistérios, capaz de inspirar melodias tocantes: Matutava. Pensava olhando distante e seu pensamento se dividia entre a viola fandangueira, o mar com seus peixes e mistérios. Desde criança, o caiçara dividia seu tempo entre a pesca e a música, duas paixões que se entrelaçavam em sua alma.

 

Entretanto, o destino é tecido em fios imprevisíveis, e o de Bastião parecia traçado, e enquanto sua vontade de violeiro crescia a cada dia que passava, a ideia se manter pescador era presente. As pessoas, dos balneários de Pontal do Paraná, o chamavam como um verdadeiro artista, e seu coração transbordava de alegria a cada sorriso que arrancava dos rostos dos moradores do lugar. No entanto, em meio a tanto sucesso, uma dúvida inquietante pairava em sua mente. Não conseguia decidir se deveria enfrentar as ondas como pescador ou compor uma canção que honrasse a bravura dos homens do mar.

 

Uma noite, enquanto tocava com maestria sua viola fandangueira em uma festa na praia, seus olhos encontraram os horizontes distantes, onde o mar se misturava com o céu noturno. Uma tristeza sutil se apoderou de seu peito, pois ele não conseguia evitar pensar que talvez estivesse destinado a mais do que apenas tocar a viola.

 

As histórias dos pescadores, contadas com tanta emoção e entusiasmo, ecoavam em sua mente, e Bastião se perguntava se também poderia ser um protagonista dessas narrativas, enfrentando as incertezas do oceano, buscando as recompensas que apenas a pesca poderia proporcionar ou arrancar dos braços de sua viola sons e historias melodiosas, em ponteios chorosos e envolventes. Em seu íntimo, sabia que essa era uma questão que deveria resolver.

 

Enquanto o dilema crescia em seu coração, uma jovem chamada Juliana, filha de outro pescador, começou a frequentar as rodas musicais. Seus olhares se encontravam com frequência, e a música de Bastião parecia despertar algo especial na alma de Juliana. Eles se aproximaram e, pouco a pouco, uma linda história de amor começou a ser escrita entre eles.

 

A presença de Juliana trouxe ainda mais luz à vida de Bastião do Mar. Ela o incentivava a seguir seus sonhos musicais, mas ao mesmo tempo, admirava a coragem e a habilidade que ele tinha como pescador. A moça acreditava que ele poderia encontrar a resposta para sua dúvida explorando os mistérios do mar que tanto amava.

 

Com o passar do tempo, a decisão se tornou mais difícil. A voz do mar ecoava em seu âmago, convidando-o a se aventurar por suas águas salgadas. Bastião se via diante de um dilema quase impossível: seguir sua paixão pela viola ou se lançar ao desconhecido, abraçando a vida dos pescadores.

 

A dúvida pairava no ar como uma brisa leve que não se dissipava.

 

Incerteza intrigante: Bastião do Mar seguiria o caminho de um pescador destemido, desbravando os mares em busca de aventuras e sustento para sua comunidade, ou continuaria a encantar a todos com suas melodias, permitindo que a música o levasse a lugares ainda mais distantes e mágicos? O destino de Bastião estava em aberto, assim como as possibilidades que o aguardavam na vila litorânea do Paraná, onde as ondas e as notas musicais persistiriam em um balé eterno de emoção e dúvidas.

 

Enquanto o sol se punha no horizonte, pintando o céu de tons dourados e alaranjados, Bastião olhou para o mar e para a viola fandangueira em suas mãos. O brilho no olhar demonstrava a paixão que nutria por ambas as vocações, e ele compreendeu que não precisava escolher apenas um caminho. O pescador e o músico poderiam se entrelaçar em harmonia, assim como as ondas e as notas musicais que ecoavam naquele cenário puro do mar de amar e de morrer.

 

Conto e Pintura “Pescador”- Cláudio Ribeiro

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