O ex-ajudante de ordens aparece na troca de mensagens com Ailton Barros, ex-major e amigo do ex-presidente, tramando golpe de Estado em dezembro passado
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, será o primeiro convocado da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que vai investigar o ato golpista do 8/1.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que o crime da falsificação dos cartões de vacina do ex-presidente, da ex-primeira-dama Michele e da filha Laura é o menor dos crimes.
Por causa da falsificação dos documentos, Mauro Cid foi preso pela Polícia Federal (PF) na operação que também fez busca e apreensão na casa de Bolsonaro em Brasília.
Do material apreendido, a PF obteve uma troca de mensagem entre o tenente-coronel e Ailton Barros, ex-major do Exército e amigo de Bolsonaro, tramando um golpe de Estado em dezembro de 2022.
A conversa é considerada nitroglicerina pura que será investigada pela CPMI. Além do golpe, o áudio revelado pela CNN mostrou o ex-militar articulando a prisão de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“É o seguinte, entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o Freire Gomes [então comandante do Exército] para que ele faça o que tem que fazer”, diz o ex-militar a Cid, que já é considerado o homem-bomba de Bolsonaro.
“Até amanhã à tarde, ele aderindo… bem, ele faça um pronunciamento, então, se posicionando dessa maneira, para defesa do povo brasileiro. E, se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa. Que você viu, né? Eu não preciso falar. Está abalada em todo o Brasil”, complementou.
“Nos decretos e nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da brigada de operações especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele”, diz outro trecho.
O ex-ajudante também está envolvido no caso das joias sauditas milionárias retidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos. Sem sucesso, o militar tentou recuperá-las para o ex-presidente.
“Primeiras conversas reveladas da parte dos auxiliares diretos do ex-presidente da República só provam que a adulteração do cartão de vacinas foi, por mais incrível que pareça, o menor dos crimes”, considerou Randolfe.
De acordo com ele, Bolsonaro participou diretamente, “através de seus auxiliares e, talvez, ele próprio da articulação de uma tentativa de golpe de estado”.
“É a prova inconteste do que nós já dizíamos: o 8 de janeiro não foi um raio fortuito em dia de sol, foi parte de uma escalada golpista que teve a inauguração no 30 de outubro com o não reconhecimento da eleição”, disse o líder.
Para ele, houve também um planejamento para “corromper e conspirar contra a democracia. “Esse é mais um crime que os auxiliares diretos de Bolsonaro e o próprio ex-presidente terá de responder”, afirmou.
“É GRAVÍSSIMO! Troca de mensagens de amigo de Bolsonaro, Ailton Barros com Cid, é farto material pra CPMI do Golpe. Como dizem, é batom na cueca. É o entorno do ex-presidente articulando, tudo falado às claras, a primeira prova de que estavam discutindo golpear o Estado. E casa direitinho com a minuta do golpe de Anderson Torres. Tá nas mãos da PF, por isso o medo dos bolsonaristas. O genocida é o capitão do golpe!”, escreveu no Twitter a deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT.
Quem é Mauro Cid
O tenente-coronel Mauro Cid é filho do general da Reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de turma de Bolsonaro na AMAN nos anos 70.
O oficial tem mais de 20 anos de Exército onde concluiu a Academia Militar das Agulhas Negras em 2000.
O militar foi alçado ao posto de ajudante de ordens pouco antes da posse de Bolsonaro em 2018.