A votação ocorre no mesmo dia em que o Supremo conclui o julgamento que derrubou o marco temporal por 9 a 2
Por 16 votos a favor e 10 contra, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (27) a constitucionalidade do marco temporal para demarcação de terras indígenas. Com isso, o colegiado ignorou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidiu, recentemente, ao contrário.
A votação ocorre no mesmo dia em que o STF conclui o julgamento que derrubou o marco temporal por 9 a 2.
Pela tese ruralista, os povos indígenas só possuem direito aos seus territórios caso estivessem em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. O STF julgou que eles possuem o direito originário constitucional sobre suas terras ancestrais.
“Imediatamente após parecer favorável na CCJ, senadores aprovaram urgência do PL 2903, que pode ser votado ainda hoje, em uma tratorada histórica contra a vida e o planeta. É o genocídio pela caneta. Derrubamos o Marco Temporal no STF mas insistem. Vamos resistir!”, reagiu a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), que é presidente na Câmara da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), disse que os seus colegas não se deram conta de que o Brasil tem uma dívida impagável com os povos originários.
“A civilização evoluiu para compreender o que são dívidas impagáveis. É isso que constitui o pacto civilizatório nosso. O reconhecimento dos direitos dos povos originários e do povo preto que foi escravizado é o que nos faz nação e é o que nos faz civilização”, advertiu.
Para ele, a decisão fere o artigo 231 da Constituição. “A Constituição reconhece o direito à terra, que é o direito à organização social e aos costumes de todos os povos que aqui vivem, às línguas e aos costumes dos indígenas contactados e dos não contactados também. É esse o avanço civilizacional da Constituição”, afirmou.
O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (PT-ES), chegou a apresentar voto separado no plenário da CCJ.
“Esse projeto não trata apenas do marco temporal. Ele fala em aculturamento da comunidade indígena. Ele assegura o contato com os povos isolados. Isso é um risco para a saúde e a vida dos indígenas que ali estão. Isso é um verdadeiro ataque aos povos indígenas. Respeitar os povos indígenas é dizer ‘não’ a esse marco temporal, à aculturação, ao contato aos povos isolados”, defendeu.