A Aliança Sombria Entre Religião e Política que Perpetua a Violência Contra Menores
Os dados são irrefutáveis: o Brasil é um país onde a violência contra menores é uma triste realidade. De acordo com o Fórum de Segurança Pública, uma criança é vítima de estupro a cada dez minutos. Enquanto você lê este texto, uma criança está sofrendo.
Além disso, o cenário é ainda mais desolador. O Brasil não é apenas um país onde ocorrem abusos; é também um lugar onde os agressores encontram refúgio sob o amparo religioso. A bancada evangélica no Congresso frequentemente age para proteger os abusadores e punir as vítimas. O projeto de lei 1904/24, apresentado pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ilustra bem essa dinâmica ao equiparar o aborto após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio, mesmo em casos de estupro. Dessa forma, uma vítima de violência extrema é sujeita a um novo ataque, desta vez pela crueldade de uma legislação impiedosa.
A deliberada mistura de religião e política no Congresso brasileiro transforma questões criminais e de saúde pública em debates morais, comprometendo a laicidade do Estado e retirando direitos de milhões de mulheres. A criminalização do aborto nunca se mostrou eficaz em qualquer país, mas a racionalidade parece não ser o ponto forte dos parlamentares que buscam votos através da exploração da ignorância e do fanatismo ideológico.
Esses legisladores apelam a uma plateia que acredita estar agradando a Deus, sem perceber que estão criando um sistema que pode se voltar contra eles mesmos. Em um país com índices alarmantes de violência de gênero, nem a fé mais fervorosa protege os apoiadores dessa lei das suas próprias consequências.
Recentemente, um caso chocante foi noticiado: um pai abusou da filha enquanto ela estava imobilizada em uma UTI após uma parada cardiorrespiratória. Descrever essa criança como vulnerável é um eufemismo.
Isso levanta perguntas inevitáveis. Se um pai é capaz de cometer tal ato no ambiente de um hospital, o que ele não faria fora dele? E se essa menina engravidar? Caso o abuso não seja comprovado antes das 22 semanas de gestação, ela pode ser obrigada a levar a gravidez adiante. A proposta legislativa abre portas para situações horríveis.
Outra situação terrível é a possibilidade de um estuprador engravidar uma mulher, obter a guarda da criança e abusar dela repetidamente. Segundo a proposta de lei, a pena para a mulher que abortar após 22 semanas pode chegar a 20 anos, o dobro da pena estipulada para estupradores.
O impacto da votação é significativo, mas o que é ainda mais perturbador é perceber que uma parcela considerável da sociedade brasileira desvaloriza as vidas de milhões de mulheres e meninas. Muitos eleitores apoiam e votam em candidatos que defendem a violência e, em alguns casos, até a praticam. O Brasil mostra suas garras ferozes contra o corpo feminino, tentando controlar essas vidas a qualquer custo e encobrindo aqueles que as violam.
As propostas chocantes são perturbadoras, mas também é alarmante a falta de coragem em se opor frontalmente aos extremistas no parlamento. Enfrentar esses objetivos teocráticos pode parecer uma sentença de morte eleitoral.
É crucial se manifestar e exercer a cidadania como nunca antes. Precisamos pressionar por um debate e pelo enfrentamento de ideias, convocando a sociedade civil a lutar por um país mais humano, livre e democrático, governado pelo bem-estar de todos, e não pela crença de um grupo específico.